Considerado um dos representantes máximos do pré-modernismo brasileiro, Barreto criou personagens inesquecíveis, como o quixotesco major Quaresma e a ingênua Clara dos Anjos. Seus escritos sempre denunciaram o papel marginal a que negros e negro-mestiços eram relegados em sua época. Crítico do racismo, da burocracia, da corrupção, sofreu, ao longo de sua vida, diversos preconceitos, aos quais respondeu com uma obra vigorosa. A lucidez com que retrata os primeiros anos do século XX tornou-se fonte de amplas reflexões para educadores, pesquisadores, militantes do movimento negro e todos aqueles envolvidos na construção de um Brasil mais solidário.
Dividido em três partes, o livro destaca vários aspectos da obra barreteana, abordando também as manifestações que ela provocou e ainda é capaz de provocar. Analisando a consciência crítica do escritor, Cuti mostra que ele experimentou um ângulo de visão social muito diferenciado em sua época. Na sua avaliação, a obra de Barreto ajuda a fazer analogias entre o passado e o presente e pode causar um verdadeiro incômodo intelectual e emotivo.
Além da prosa de ficção, Barreto escreveu artigos e crônicas publicados em jornais e revistas, abordando temas intrigantes e polêmicos, como: corrupção na política, violência contra a mulher, ostentação social, futebol e violência, parcialidade da imprensa, literatos esnobes e hermetismo, entre outros. "Ele nos deixou um amplo e pulsante painel da vida cotidiana de seu tempo, alcançando-nos com sua capacidade de revelar e problematizar questões perenes, universais e aquelas para as quais o povo brasileiro ainda não conseguiu encontrar solução", avalia Cuti.
Os capítulos mostram que a obra de Barreto transgride a noção de literatura como imitação de modelos. Segundo o pesquisador, ela se afasta do propósito de arte literária evasiva, de fuga da realidade por parte do escritor e do leitor. "Seus textos impactam porque atuam no sentido oposto. Buscam expressar a realidade. Por isso, ele desrespeitou regras, sobretudo as dos gêneros e padrão de linguagem", afirma, lembrando que, além de produzir literatura, o escritor também refletiu e escreveu sobre ela.
"O autor das Bruzundangas foi um prosador bastante cuidadoso quanto ao batismo de seus livros", destaca Cuti. Seu humor, pelo viés da ironia, levou-o a escolher títulos e nomear personagens de maneira muito particular, remetendo o leitor à criação de expectativas sobre o que lhe será narrado. Os temas abordados pela obra de Barreto são inúmeros. Atento ao noticiário local e a informações sobre os acontecimentos mundiais, ele foi um escritor prolífico. O capítulo "Atualidade temática" destaca dois temas por sua perenidade e suas consequências para a vida do país: racismo e futebol. "Eles servem para comprovar que a presença do autor se justifica no cânone nacional como consciência crítica das mais relevantes", complementa.
Retratos do Brasil Negro
A Coleção Retratos do Brasil Negro, coordenada por Vera Lúcia Benedito, mestre e doutora em Sociologia/Estudos Urbanos pela Michigan State University (EUA) e pesquisadora dos movimentos sociais e da diáspora africana no Brasil e no mundo, tem como objetivo abordar a vida e a obra de figuras fundamentais da cultura, da política e da militância negra. Outros volumes: Abdias Nascimento, João Candido, Lélia Gonzalez, Luiz Gama, Nei Lopes e Sueli Carneiro.
O autor
Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, nasceu em Ourinhos (SP) e mora na capital paulista. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), é mestre em Teoria da Literatura e doutor em Literatura Brasileira pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi um dos fundadores da organização literária Quilombhoje e um dos criadores e mantenedores da série Cadernos Negros. É autor, entre outros, dos seguintes livros: Poemas da carapinha (1978); Quizila (1987, contos); Dois nós na noite e outras peças de teatro negro-brasileiro (1991); Negroesia (2007, poemas); Contos crespos (2008); Moreninho, neguinho, pretinho (2009, ensaio); Poemaryprosa (2009, poemas); Literatura negro-brasileira (2010).
Título: Lima Barreto - Coleção Retratos do Brasil Negro
Autor: Cuti
Coordenadora da coleção: Vera Lúcia Benedito
Editora: Selo Negro Edições
Preço: R$ 22,00
Páginas: 128 (12,5 x 17,5)
ISBN: 978-85-87478-51-1
Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890
Site: www.selonegro.com.br